
Eu sou a favor da guerra, mas não dessa guerra.
O mundo assistiu atentamente ao encontro entre o presidente Zelensky e Donald Trump na Casa Branca, há poucas horas. O gesto, a troca de palavras, a tensão implícita – quem estuda história sabe que são nesses momentos que se desenham os marcos de grandes conflitos. Não foi diferente no passado. A Primeira Guerra Mundial encontrou seu estopim no assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, em 28 de junho de 1914, em Sarajevo. A Segunda Guerra Mundial, por sua vez, teve seu marco inicial na invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1º de setembro de 1939. Estaríamos nós vivendo um momento semelhante após o encontro entre Trump e o presidente da Ucrânia?
Somente aqueles que ignoram o que significam milhões de corpos – vidas ceifadas nos campos de batalha, nos campos de concentração ou nos leitos onde crianças se escondem das bombas que atravessam suas casas – ousariam afirmar que uma resposta imediata e inflamada seria a melhor saída. A Primeira Guerra Mundial deixou cerca de 20 milhões de mortos, entre civis e militares, enquanto a Segunda Guerra Mundial ultrapassou os 70 milhões de vidas perdidas, tornando-se o conflito mais devastador da história. Quem reduz as tensões contemporâneas a meros memes e postagens inflamadas ignora o peso dessas cifras e a tragédia que se avizinha, caso o ciclo de orgulho e rivalidade se repita.
Mas a história da guerra não começou em 1914 ou 1939. As grandes guerras moldaram nações e continentes muito antes de as armas modernas se tornarem símbolos de destruição. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre Inglaterra e França, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que devastou a Europa Central, e as Guerras Napoleônicas (1803-1815) redefiniram fronteiras e políticas globais. Não estou aqui para listar outros conflitos, como aqueles que ceifaram meus irmãos indígenas e negros no meu país de origem. Esses eventos ensinam que, por trás da geopolítica, há sempre um custo humano imensurável.
O que está em jogo agora não é apenas orgulho pessoal ou retórica belicista, como se viu amplamente nos comentários e memes sobre a cena emblemática do discurso de Trump e Zelensky. O que está em jogo é a estabilidade global, a segurança de milhões de pessoas e o futuro das relações internacionais. Responder à altura, como muitos sugerem, pode significar jogar gasolina em uma fogueira prestes a consumir o mundo. A história ensina, mas poucos a escutam.
Se uma Terceira Guerra Mundial eclodisse, o cenário seria diferente de tudo o que já vimos. Não seriam apenas exércitos em campos de batalha, mas uma guerra travada com armas hipersônicas, inteligência artificial militarizada, guerra cibernética e biotecnologia, além da ameaça sempre presente de um holocausto nuclear. Seria o Armagedom moderno, onde não haveria vencedores, apenas destruição em massa e um planeta irreconhecível. Em questão de dias, grandes metrópoles poderiam ser apagadas do mapa, infraestruturas globais destruídas, e a civilização, como a conhecemos, poderia colapsar.
O que temos hoje para perder? Tudo. Enquanto alguns ainda brincam com o fogo do belicismo, estamos diante de uma batalha muito maior: a luta contra a destruição do planeta. Criamos cúpulas e mais cúpulas para reduzir o aquecimento global, combatemos a fome mundial e buscamos maneiras inovadoras de garantir a sobrevivência em um planeta que se torna cada vez mais inóspito. A ciência avança na busca por soluções, mas o tempo corre contra nós. Nossa guerra não deveria ser contra nações, ideologias ou líderes políticos – nossa guerra é contra a extinção.
Somos a primeira geração a construir as condições para não ser a última. O que está em jogo é o futuro da humanidade. Responder à altura, como muitos sugerem, pode significar entrar para a história como aqueles que selaram o fim de tudo ou como aqueles que ousaram mudar o rumo do destino.
Sim, vamos à guerra. Mas não contra nós mesmos. Vamos à guerra contra os verdadeiros inimigos: a fome, a destruição do meio ambiente, a desigualdade, a indiferença. Nossa batalha é por um lugar na história, não por um fim predeterminado. O verdadeiro desafio da humanidade não é a guerra entre nações, mas a luta pela sua própria permanência no tempo.
Entendo a posição de Zelensky ao evocar o sofrimento que seu povo está enfrentando – a dor de uma guerra que já dura três anos, com perdas irreparáveis e a constante ameaça de destruição. Ele fala como líder de uma nação em luta, buscando garantias de segurança e justiça contra a agressão russa. Por outro lado, compreendo também Trump ao afirmar que Zelensky não pode presumir o que os Estados Unidos ou seu povo sentirão, especialmente após anos de apoio financeiro e militar maciço, que ele acredita ter sido mal reconhecido. Trump posiciona-se como um mediador pragmático, priorizando o fim do conflito e os interesses americanos. Diante disso, posso afirmar que o verdadeiro desafio não está apenas em quem tem razão nessa troca de acusações, mas em encontrar um caminho que evite o colapso de nações e o risco de uma escalada global. A história nos julgará não pelas palavras trocadas em um gabinete, mas pelas ações que tomarmos para preservar a humanidade de si mesma.
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