O Brasil está em êxtase com a vitória no cinema, celebrando não apenas a conquista pessoal de Fernanda Torres, mas o que muitos, inclusive a própria atriz, imaginavam impossível. Há algumas semanas, Fernanda chegou a afirmar, em uma entrevista ao The New York Times, que seria impossível um filme em língua portuguesa ganhar um prêmio tão prestigiado como o Globo de Ouro. "Ganhar seria uma história incrível. Mas considero impossível", disse ela na ocasião.
E, no entanto, decidimos fazer acontecer. Do presidente da República às mãos incansáveis dos amantes eternos do cinema nacional, a vitória de Fernanda Torres como Melhor Atriz por Ainda Estou Aqui representa um marco para a história do cinema em língua portuguesa.
O prêmio também simboliza uma vitória sobre o legado cultural. Afinal, 25 anos depois, a filha de Fernanda Montenegro, que havia sido indicada para o mesmo prêmio com o filme Central do Brasil, demonstra que os filhos podem, sim, ir além dos caminhos trilhados pelos pais. Com tempo e resiliência, podemos alcançar espaços e vencer barreiras que antes pareciam intransponíveis.
Por que, então, o título deste ensaio?
Porque, apesar dessa vitória, “ainda não estamos por aí” – pelo mundo, na ONU, por exemplo, como língua oficial, ou no Louvre, apesar de sermos um dos maiores públicos visitantes.
Portanto, apesar de, com esse filme, dizermos “estamos aqui”, quebrarmos barreiras e darmos sinais de fogo ao mundo, mostrando e provando que a voz de um escritor – Marcelo Rubens Paiva – que decide não esquecer a memória de tempos sombrios, pode também ressoar com um Globo de Ouro e salas de cinema com aproximadamente 3 milhões de espectadores. Ainda não fizemos com os artistas em língua portuguesa as pontes para levarem sua arte ao mundo, não estouramos de likes a cada escritor brasileiro que vai para uma feira internacional ou um jovem que, como no Centro onde trabalho, ousa falar em língua portuguesa em espaços de decisão.
Não se trata de globalizar o português, mas de consolidá-lo como um idioma capaz de coexistir em espaços de multilinguismo.
Precisamos – sobretudo porque somos nós os donos dos recursos do amanhã: água, floresta, fontes de energia renovável, modos de vida que respondem à natureza – afirmar nossa presença sem sucumbir à necessidade de nos traduzirmos constantemente.
Precisamos de políticas públicas, investimentos culturais e iniciativas que garantam à nossa língua o direito de ser ouvida, preservada e respeitada.
Precisamos estar por aí. Concordam?

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